Iniciativa da CASO Portugal no âmbito da campanha #supportdontpunish, em que foram distribuídos kits para consumo fumado de cocaína no bairro do Cerco no Porto. O objectivo foi dar a conhecer este material aos utilizadores e promover a sua futura inclusão em programas de redução de riscos da cidade.

O Dia de Ação Global da campanha “Apoie, Não Puna.”, foi, para a CASO-Portugal, um dia realmente extraordinário. Um dia de encontros abertos e honestos entre pares, um momento de partilha com o apoio da EuroNPUD, e em parceria com: APDES / GiruGaia, do GAT / In-Mouraria / MOVE-SE, Médicos do Mundo e ARRIMO. OBRIGADO A TODOS.

A CASO optou por uma ação de encontro entre a comunidade de pessoas que usa substâncias psicoativas no seu local de consumo, fortalecendo assim os momentos de partilha entre pares. O encontro foi no Bairro do Cerco, no Porto – um bairro onde existe venda e consumo de substâncias psicoativas, principalmente heroína e crack. O consumo é feito a céu aberto, em espaços abandonados e degradados. Muitos deste utilizadores estão em situação de sem-abrigo, e , muitas consumidoras a fazer trabalho sexual.

Assim, deslocámo-nos com uma equipa da ARRIMO, que é a associação que trabalha em Redução de Riscos e Minimização de Danos na zona Oriental do Porto, que nos mostrou alguns espaços de consumo onde a sua equipa de rua tem intervenção e depois parámos num local onde vários consumidores costumam estar. No dia anterior já tínhamos visitado o Bairro, consversado com os dealers e consumidores sobre a ação que iríamos promover.

Foram distribuídas T-shirts com o logo da campanha e, enquanto lanchávamos, fomos conversando sobre os objectvos da campanha, nomeadamente o apelo ao fim de políticas de drogas penalizadoras das pessoas que usam substâncias psicoativas e de pequenos traficantes, e a defesa de políticas assentes nos Direitos Humanos e nas evidências científicas.

A alteração nas regras com que a metadona é administrada, a necessidade de espaços de consumo seguros, mais equipes de proximidade, alojamento digno, e maior e mais significativo envolvimento dos utilizadores de substâncias psicoativas nas políticas e intervenções que são realizadas, foram os principais temas abordados.

De seguida houve uma conversa mais estruturada sobre o consumo fumado de crack e os danos causados pelos cachimbos tradicionais (feitos em metal ou plástico), e uma formação breve sobre o uso de cachimbos de redução de danos, feitos em vidro temperado.

No final houve uma distribuição de kits de cachimbos. As pessoas foram de seguida experimentar os seus novos cachimbos, e, assim, houve a possibilidade de retirar algumas dúvidas que foram surgindo, e no final auscultámos quem tinha utilizado sobre a experiência, tendo a maioria das pessoas referido que iriam utilizar estes cachimbos e que a experiência era positiva no que se refere à experiência de cada um.

Ao fim da tarde despedimo-nos com uma sensação de realização, principalmente pela quebra do ciclo de isolamento e solidão que sentimos que marcam a maioria destes consumidores, e com a sensação reforçada que o trabalho em rede, numa lógica colaborativa e o trabalho feito pelos Pares nos locais de consumo são fundamentais para uma eficiente Redução de Riscos e Minimização de Danos.

Resta-nos os agradecimentos:

– à APDES / GiruGaia / GiruBarcelos, que enquanto parceiros estratégicos, ajudaram e incentivaram desde o inicio, contando a CASO com a colaboração da Joana Canedo, da Teresa Sousa e da Lígia Parodi.

– ao GAT / In-Mouraria / MOVE-SE, pelo apoio, quer na oferta para distribuição de 150 kits de cachimbos de crack, quer no apoio à deslocação de dois mediadores de pares, a Maria João Brás do projecto MOVE-SE e o João Santa Maria do projecto In-Mouraria

– à Médicos do Mundo, pela cedência da sala de reuniões, obrigado Raquel Rebelo – à ARRIMO pela participação conjunta no terreno

– à Rede Europeia de Pessoas que Usam Drogas (EuroNPUD), obrigado Janko. – ao IDPC / Support Don’t Punish, obrigado Jamie Bridge.

– Aos utilizadores de substâncias psicotivas que tão bem nos acolheram e pelo que partilharam.

Por último e talvez o mais importante, algumas ideias com que saímos da ação: É POSSÍVEL quebrar o ciclo de isolamento e solidão que muitas pessoas que usam substâncias psicoativas estão a viver, e o trabalho feito por pares nos locais de consumo, a conversa honesta, de igual para igual, é eficaz, eficiente e fundamental se queremos acabar, ou diminuir, algumas infeções e promover a inclusão, o trabalho colaborativo e o acesso à cidadania das pessoas que usam substâncias. Com isto não queremos retirar a importância de outros interventores psicossociais nesta área, queremos apenas reforçar o contributo único que os pares podem dar para, em colaboração, implementarmos mais rápido, com menos custos, melhores respostas às necessidades das pessoas que usam substâncias psicoativas e se encontram em situações de maior vulnerabilidade.

Texto: via CASO Portugal

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